segunda-feira, 20 de março de 2017

As handbikes de um Campeão

Depois do merecido repouso do guerreiro, após as paralimpíadas do Rio no Verão passado, o paraciclista Luis Costa tem já os objectivos bem definidos para que, em 2020, possa obter ainda melhores resultados no extremo oposto do planeta, nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Há, por isso, um longo caminho a percorrer pelo nosso Campeão Nacional de Contrarrelógio e de Estrada, títulos que o paraciclista luso conquistou em 2016 pelo quarto ano consecutivo, ano em que também ascendeu ao 2º lugar absoluto no ranking mundial da modalidade (Classe H5).

Como companheiras destas aventuras nacionais e internacionais, o atleta do Sporting Club de Portugal tem evoluído, como desportista profissional, apostando em diferentes handbikes, com características adaptadas aos diferentes escalões da modalidade. Tem o hábito de lhes dar nomes, conforme nos confidenciou Luis Costa, na recente entrevista que deu ao Trendy Wheels
“A ‘Zingarelho’ foi a primeira, de quando comecei a competir, em Março de 2013, sendo uma handbike em que nos sentamos numa posição inclinada para trás. A partir de Junho desse ano passei para a ‘Rasteirinha’, em que seguia deitado, e a seguir, em Setembro, veio a ‘Lebre’, uma handbike que se conduz de joelhos, fruto da reclassificação que me foi feita pela UCI – estava, na altura, numa classe errada – quando participei pela primeira vez numa Taça do Mundo. A actual começou por ser a ‘Basca’, mas acabei por não interiorizar o nome e na verdade trato-a simplesmente por ‘Menina’”, explica.


Reforcem-se as diferenças significativas entre as várias máquinas usadas no paraciclismo, que podem ser: bicletas de duas rodas, handbikes, triciclos ou tandems. Actualmente o nosso entrevistado usa uma handbike que se integra na Classe H da modalidade e embora seja comum a confusão criada na mente dos menos atentos, as handbikes nada têm a ver com as cadeiras de rodas tradicionais: “O próprio nome é esclarecedor, não sendo, de facto, uma cadeira, sendo que estas são utilizadas nas provas de atletismo, participando em maratonas e em provas de pista, nos estádios. Embora muita gente as confunda pelo facto de também terem 3 rodas, a tracção nas cadeiras de rodas é feita diretamente pelas mãos nos aros das rodas traseiras”.
Imagens: Ottobock (1), Luis Costa – Paraciclista (2), Cycle Style (3), Telmo Pinão (4) Canadian Paralympic Comittee (5)

“Já as handbikes, como a minha, funcionando exactamente como as bicicletas, recorrem a cranks, rodas pedaleiras, carretos e mudanças, tendo como única (e grande) diferença o facto de se operarem com as mãos, em vez dos pés, recorrendo a pedais alternados. Há ainda os triciclos da Classe T, que se pedalam com os pés e que têm 3 rodas”, acrescenta.
A estas há que acrescentar os tandems, com dois selins, utilizados por atletas invisuais e que, por isso, correm em duplas, sendo que o outro atleta – o que vai no selim da frente – não tem qualquer deficiência visual, e as bicicletas tradicionais, mais ou menos adaptadas ao grau de deficiência de cada atleta. 
Voltando às handbikes do entrevistado desta edição Trendy Wheels, se as suas três primeiras tinham o seu quadro de alumínio, a ‘Menina’ tem um novo quadro totalmente em carbono, num conjunto que com as mais recentes evoluções, ao nível das rodas e demais elementos, já resulta num investimento muito significativo. “Quando se quer competir ao mais alto nível, seja nas provas nacionais e internacionais, mas em especial ao nível de um Campeonato do Mundo ou umas Paralimpíadas, é obrigatório haver algum investimento, pois de outro modo não conseguimos usar armas iguais – ou pelo menos equivalentes – às dos nossos adversários.”
Apesar de algumas dificuldades ao nível da angariação de fundos, tal tem-se mostrado possível graças aos apoios que Luis Costa tem obtido, nomeadamente em serviços associados, dos diferentes parceiros com que tem contado ao longo da sua ainda recente carreira, ajudando a completar o bolo do seu próprio investimento individual. “É aos meus patrocinadores e apoiantes que devo parte do que tenho conseguido ao longo da minha carreira e é com eles que quero ir até aos Jogos de Tóquio 2020”.

Mais de 7.000 km na pré-época
Findo o período de descanso e recuperação pós Rio de Janeiro, há muito que Luis Costa regressou aos treinos, num programa intensivo que não só envolve trabalho de ginásio, como a participação em eventos esporádicos – desportivos, solidários e outros – preparativos do que definiu como o seu “Programa Desportivo para 2017”.
Imagem: Algarve Granfondo
Curiosamente há quem pense que a coisa se faz num estalar de dedos, mas naturalmente que não é bem assim, como nos explica: “Há muita gente que regularmente me pergunta se tenho treinado, mas mais recentemente a coisa torna-se ainda mais ‘gira’, ao acrescentarem algo do género ‘agora que o Inverno já passou, já podes voltar aos treinos, não é?’”. Pois… ele tem treinado e não é pouco, pois “entre Novembro de 2016 e agora já terei feito cerca de 7.000 km na bike, isto fora as horas de ginásio, não só físico, como de preparação mental.”
Intercalando os treinos diários e bi-diários, o paraciclista luso da Sporting/Tavira – Paracycling tem participado em provas de pré-época, nomeadamente Minifondos – já esteve no Algarve e em Palmela, estando em agenda o de Almodovar (25 de Março) e o de Évora (9 de Abril) – antes de se iniciar a sua jornada internacional, que prevê eventos em Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, África do Sul e Emirados Árabes Unidos, intercalados com as diferentes provas nacionais.
Imagens: Arrábida Granfondo

Os dois primeiros já estão cumpridos e se o primeiro correu sem problemas de maior, tendo alcançado o 5º lugar da geral masculina, já a prova da Arrábida fê-lo passar por uma experiência que nenhum ciclista gosta, pois “fiquei embrulhado numa queda que envolveu vários atletas logo no início da corrida”. Recolando depois ao grupo da frente, fruto do trabalho em conjunto com um grupo de outros atletas, “vi-me depois a braços com a amarga subida final em Palmela, em calçada portuguesa, molhada e escorregadia, com passagem por dentro de um jardim, onde nem conseguia fazer as curvas em cotovelo. Tinha que colocar as mãos no chão para levantar a handbike e fazê-la rodar para conseguir curvar a subir, para depois sair do jardim por uma rua a subir a pique, também em calçada, onde por pouco não comecei a andar... para trás! Enfim, foi uma manhã animada.”
À parte destas peripécias, o paraciclista considera ter sido “um bom teste à minha preparação para a época que se aproxima, fiz o 15º lugar da geral – o 13º foi um senhor ‘desconhecido’ chamado Marco Chagas! – e o 7º do meu escalão. Mais uma demonstração que se consegue fazer coisas interessantes a pedalar com os braços em comparação com os que normalmente o fazem com as pernas”.

À conquista de Portugal e do Mundo
Depois dos Minifondos seguem-se os diferentes eventos, nacionais e internacionais, que irão por à prova toda esta preparação, ajudando Luis Costa a evoluir entre os demais adversários e a rechear a sua vitrina de prémios. Do calendário fazem parte 3 provas da Taça do Mundo, mais o Campeonato do Mundo e a Final do Circuito Europeu, bem como 4 jornadas da Taça de Portugal e os Nacionais de Contrarrelógio Individual e de Fundo, defendendo os títulos de 2013 a 2016. Veja aqui o calendário:
- 22/23 Abril - Verola Paracycling Cup (Itália)
- 29/30 Abril - Brescia Paracycling Cup (Itália)
- 11/14 Maio - Taça do Mundo de Paraciclismo, Maniago (Itália)
- 19/21 Maio - Taça do Mundo de Paraciclismo, Ostend (Bélgica)
- 28 Maio - Taça de Portugal, Viana Castelo
- 18 Junho - Taça de Portugal, Águeda
- 24/25 Junho - Paracycling Bira, Bilbau (Espanha)
- 30 Junho/2 Julho - Taça do Mundo de Paraciclismo, Emmen (Holanda)
- 8 Julho - Campeonato Nacional de Contrarrelógio Individual (Almeirim)
- 9 Julho - Campeonato Nacional de Fundo, Almeirim
- 16 Julho - Taça de Portugal, Albergaria-a-Nova
- 20 Agosto - Taça de Portugal, Alcobaça
- 31 Agosto/3 Setembro - Campeonato do Mundo de Paraciclismo, Pietermaritzburg (África do Sul)
- 28 Outubro - Final do Circuito Europeu de Handbike, Abu Dhabi (EAU)
Destaquem-se os apoios que Luis Costa tem nesta aventura internacional sobre rodas, com especial destaque para a UVP - Federação Portuguesa de Ciclismo e o Sporting Clube de Portugal, clube com quem renovou, recentemente, o seu contrato. As restantes entidades que o ajudam, neste momento, a preparar o seu projecto rumo aos Jogos de Tóquio 2020 são (por ordem alfabética) a Alportil - Concessionário Skoda, Beto Fitness Club, G-Ride Portimão E Faro, Hypno Coaching, Mediessencial - Clínica Médica e Dentária Lda, Os Mosqueteiros, OZ Energia, Sabores Da Ria e Tattoo Studium. Outros serão, decerto, muito bem-vindos!
Imagens (todas as restantes)Luis Costa – Paraciclista 

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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