terça-feira, 13 de junho de 2017

Presidenciais I: Macron vs Rebelo de Sousa

As cerimónias de tomada de posse de monarcas, presidentes, ditadores e outros governantes são sempre eventos repletos de pompa e circunstância, adequados ao estatuto d@ recém-eleit@, trazendo, na maioria dos casos, rodas associadas. Há automóveis emblemáticos, limousines fortemente armadas, faustosos coches clássicos e outros bem mais modernos.
Imagens: Museu dos Transportes e Comunicações e Presidência da República
Defendendo uma imagem mais nacionalista, é comum a escolha, por parte das Casas Reais ou Presidenciais, de modelos de produção caseira. É de França o mais recente exemplo da célebre frase publicitária “o que é Nacional é bom”, poucas semanas após o alívio (para a maioria) ou o desaire (para muitos outros), decorrente da eleição de Emmanuel Macron como o seu novo Presidente da República. À semelhança de muitas outras ocasiões, as escolhas do recém-eleito no domínio das rodas com que vão prestar juramento, recaem em marcas com o selo “Fabriqué en France”, nomeadamente a Citroën, Peugeot e Renault, grupo a que se juntou, num passado mais recente, a DS Automobiles, actual símbolo do requinte e savoir-faire gaulês.

Os mais conhecedores da temática decerto reconheceram o DS 7 Crossback, carro com que o novo inquilino do Palácio do Eliseu surgiu, no passado dia 14 de Maio, a acenar aos seus eleitores, modelo que ainda nem chegou ao mercado! É o mais recente e luxuoso SUV da marca francesa, aqui adaptado a preceito e dotado de elementos identificadores deste seu estatuto presidencial, à semelhança de outro – um DS 5 Hybrid, igualmente novidade à data – que, na investidura anterior de 2012, levou o então recém-eleito François Hollande até ao palco de todas as promessas.

É um historial que, em França, remonta a meados do Século XX, se bem que então a DS fosse um modelo do catálogo da Citroën, muito antes da recente autonomia da marca, abandonando o double chevron. Após René Coty (1954-59) e o seu Citroën 15/6 “Traction”, iniciou-se uma década de amor do General De Gaulle (1959-69) ao Citroën DS 19 de então, para depois o seu sucessor George Pompidou (1969-74) escolher um Citroën SM, carro que haveria também de transportar Jacques Chirac (1995-2007), se bem que este viesse a usar um CX e um C6 como “Veículos de Estado”.
Imagens: DS Automobiles


Pelo meio, Valéry Giscard d’Estaing (1974-81) dividiu-se entre um Peugeot 604 – outro carro do mesmo grupo industrial – e um Citroën DS 21. Já a Renault saltou duas vezes para a ribalta presidencial, primeiro com François Mitterrand (1981-95) e o modelo Safrane, e depois, no período 2007-12 com Nicolas Sarkozy e o peculiar Vel Satis, embora a sua investidura se tenha feito num… Peugeot 607 Paladine.
Já cá pelo nosso burgo...
Pois, foi também publicamente comentado, após a sua tomada de posse, que Marcelo Rebelo de Sousa abdicou do Mercedes-Benz SL500 Longo que Cavaco Silva lhe oferecera, tradição em que o Presidente cessante compra um novo carro ao seu sucessor, normalmente ficando com o seu. O nosso “Presidente dos Afectos” usa, desde então, outro modelo da mesma marca, mas de uma gama mais baixa.
Imagens: Museu dos Transportes e Comunicações (1 e 2), Museu da Presidência (3, 4 e 5)


Este ainda não é um dos exemplares de toda uma história que se conta no Museu da Alfândega, no Porto, na exposição O Motor da República – Os Carros dos Presidentes, espaço que reúne uma das mais importantes colecções de viaturas do país. São diversos os modelos que ostentam a esfera armilar lusa, da carruagem herdada da extinta Casa Real, a modelos mais recentes, passando pelos hipomóveis do início da nossa centenária República, pelos Mercedes-Benz 770 W07 blindados do Estado Novo, período de que se conservam ainda os Rolls-Royce Phantom III e V, Mercedes 600 Pullman e Vanden Plas Princess. Visite, ainda o arquivo do Museu da Presidência sobre este mesmo tema, entidade que, de vez em quando, autoriza a saída das viaturas para exposições temporárias pelo país.
É todo um outro modo de aprender a História de Portugal, numa vertente sobre rodas!
Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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