sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Madeira, esse material tão versátil

Esculturas em madeira! Há quem as faça em pequenas peças de bijuteria, enquanto outros recriam monumentos, animais, famosos, em modo busto ou corpo inteiro – enfim! – um sem número de peças nessa dádiva da natureza cada vez mais rara no nosso país, ultimamente reduzida a cinzas sem que nada aconteça. Ano após ano, os muitos interesses instalados do chamado “negócio do fogo” continuam a ser muito maiores do que tudo o resto, mesmo que pelo caminho se devastem ou ceifem vidas inteiras, sem qualquer tipo de respeito, mostrando-se todos depois tão solidários e prontos a prestar a sua (pseudo) ajuda.

Passada esta espécie de desabafo do estado de uma alma lusa, quase tão negra como as nossas aldeias e zonas outrora verdes, vamos tentar ver o outro lado do uso da madeira, numa forma de arte com cores bastante mais alegres e com a assinatura de um nome grande, Michel Robillard. Hábil marceneiro francês dedica-se, desde tenra idade – algures pelos seus 14 anos – a dar corpo a peças de índole diversa, cruzando-se não raras vezes com o mundo das rodas.
Há muito tinha um grande sonho, de tornar a sua paixão entre os automóveis – o Citroën 2CV – num dos seus projectos. Mas não que quisesse fazer uma simples e detalhada miniatura a uma qualquer escala desse ícone da indústria, nada disso, quis sim fazer um exemplar em tamanho real e que, de preferência, se pudesse deslocar pelos seus próprios meios.
Imagens: Citroën Origins / Maquettes tous en Bois Fruitier

Robillard lançou-se, assim, no projecto “2CV en Bois”, de seis longos anos mas recentemente completado, envolvendo a criação em madeiras nobres de uma versão de 1953 do modelo. Assente num robusto chassis de um Dyane de 1966 – tudo porque a madeira é um material mais pesado do que a chapa – as madeiras usadas têm uma particularidade: são todas árvores de fruto, da “pereira para a estrutura, à macieira para o capot, nogueira para as cavas das rodas e volante, ou cerejeira para as portas e tampa da mala, para além do ulmeiro para o painel de instrumentos,” descreve, com indisfarçável orgulho, a sua obra de arte.
Tido como perfeccionista, é enorme o detalhe dado ao conceito onde, e a título de exemplo, só o capot se compõe de 22 secções, num aturado processo criativo em que usou dezenas de ferramentas de carpintaria e outras de recurso, também usadas para a concepção dos bancos, entretanto suavizados com confortáveis zonas almofadadas. Não contente com isso equipou o seu 2CV com um motor de 602 cc, jantes e pneus de origem, tal como o são os faróis, os piscas ou os inigualáveis puxadores das portas.
“Quis fazer um objecto que perdurasse no tempo muito para além de mim próprio”, reforçou, num projecto que mereceu o apoio da própria Citroën que, muito recentemente, colocou a criação de Robillard no seu Museu Virtual online Citroën Origins.  


Uma vida de dedicação
É impressionante o detalhe dado a este “2CV em Madeira”, espelho em tamanho real de diversos outros exemplares que realizou e tem expostos no seu atelier e que, não raramente, se vêem levados até às mais diversas mostras realizadas por terras de França e além-fronteiras, contribuindo, no seu conjunto, para a igualmente grande galeria de troféus.

Não raras vezes, este autêntico ourives da madeira compra modelos à escala no mercado tradicional, analisando depois com paciência de chinês o seu processo de montagem. “Para cada modelo parto de uma maquete em metal ou aço, à escala de 1:18 ou 1:43. Monto-a e, de seguida, faço os meus cálculos para as cotas que necessito e refaço-os à escala, em madeira, sendo que a minha única preocupação é trabalhá-los nos limites desse material”. Nasceram, assim e entre outros, exemplares vários do seu amado 2CV, bem como um Renault 4 CV, um Volkswagen Carocha e um Bugatti Royale, todos à escala de 1:10, “cada um deles envolvendo não menos do que 500 a 600 horas de trabalho, variável caso a caso,” acrescentando que várias das peças que os integram “necessitam de um ou mais dias inteiros de trabalho!”





Recriou, também, outros exemplares sobre rodas, como um Ferrari de F1 de Michael Schumacher, ou uma moto Harley Davidson com sidecar, esta com mais de 500 horas de concepção, com uma precisão ao detalhe tal que os raios das jantes têm apenas 20 milímetros, modelo que lhe valeu uma medalha de ouro no “Mondial de la Maquette” de 2004, realizada nos pavilhões da Porte de Versailles, em Paris.
Destaque ainda para um avião Canadaire CL-415, da Protecção Civil Francesa, ou “um camião americano de desempanagem com mais de 1.000 peças – 150 delas só para o motor – onde tudo funciona, das rodas que viram junto com o volante, até às portas que se abrem”. Demorou mais de 1 ano a dá-lo como acabado. 

Imagens: Maquettes tous en Bois Fruitier

Se quiser ver mais em pormenor estes e outros exemplares clique aqui ou assista a este pequeno vídeo, onde, na primeira pessoa, Michel Roubillard demonstra os detalhes de alguns exemplares.

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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