sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Um Bilhete Para Ho Chi Minh City Sff!

“Bom dia! Quero um bilhete para Ho Chi Minh City por favor!” Se fizesse este pedido no guichet da estação da CP de Vila Real de Santo António, o mais certo era que do outro lado do vidro lhe respondessem algo do tipo “Ah mon… Moce! Deslarga-me da mão!”, ou então um “Comé-quié?”, acompanhado de um sinal de chamada do Segurança de serviço para ver “o qu’é qu’este cabeça de azinho quer pr’áqui!”. 

Embora parecendo algo do outro mundo, apenas não é possível a compra na íntegra desse bilhete, mas já o é viajar de comboio desde Vila Real de Santo António, no extremo do sudeste Algarvio, até Ho Chi Minh City (também conhecida como Saigão), na ponta sul do longínquo Vietname! Uma perfeita loucura, é certo, mas faz-se!
 
Imagens: CM Vila Real Santo António e Ho Chi Min City Municipality

Surpreso?! Eu também fiquei assim pró estupefacto, mas um estudo do portal Basement Geographer, feito em tempos e entretanto replicado noutros portais, demonstra-o... em parte. Isto porque não querendo fazer um eco dessa viagem, decidi esticar um pouquinho mais o percurso, acrescentando-lhe uns meros 500 km (62 no Algarve e 441 até Coimbra), vislumbrando esta viagem a partir do sul do país, acumulando aos 17.000 km originais. Afinal, até dá para ligar ambas as cidades e fazê-la – se não houver atrasos e condicionantes – em cerca de 13 dias, mas vá-se lá saber em que estado de cansaço!

Imagens:  Google Maps, CP

De  mochila às costas na estação de Vila Real de Santo António e ‘bora lá e tentando perder-se o menor tempo possível entre composições. A longa viagem inicia-se num comboio Regional da CP às 13h33, levando 70 minutos até Faro, para às 15h05 arrancarmos no Alfa Pendular rumo a Coimbra B, chegando ao destino às 19h43.
 
Imagens:  Google Maps, CP
Segue-se o internacional Sud Expresso que, saindo de Coimbra-B às 23h32, atinge a fronteira de Vilar Formoso às 02h20, Medina del Campo (Espanha) às 05h40 e Hendaye, já do lado francês dos Pirenéus, às 11h28 da manhã do dia seguinte, numa primeira viagem nocturna que permite descansar e aproveitar as refeições a bordo da carruagem-bar.

O Sud Expresso liga depois ao TGV-Atlantique francês que circula entre a fronteira franco-espanhola e Paris e daqui e sempre por países da União Europeia, o destemido viajante segue, depois, a bordo de diferentes composições (incluindo o ICE e o EuroNight), passando e/ou parando em cidades como Bruxelas, Colónia ou Berlim, até alcançar Varsóvia, na Polónia. Nesta altura já se somam cerca de 40 horas de viagem (com transbordos e algumas esperas mais ou menos longas, mais o acerto horário) desde que se saiu de Coimbra-B.
 
Imagens:  Google Maps, SNCF e ICE


Ainda está fresquinho? Então prepare-se que a partir daqui é a doer! Da Polónia inicia-se uma viagem de quase 26 horas e meia num Polonez, que cobre os pouco mais de 1.300 km até Moscovo, atravessando-se a Bielorrússia. Dormir, comer e o xixizinho da ordem só a bordo, pois as localidades onde se pára são só vistas pela janela. Não há tempo para mais!
 
Imagens:  Google Maps, Seat61ExpressToRussia

É na capital russa que se inicia a histórica Rota Transiberiana (ou pelo menos parte dela) que atravessa quase na horizontal o sul daquele enorme país. Interrompe-se esse trajecto em Ulan-Ude, para se entrar na Rota Trans-Mongólia, que atravessa este país de norte para sul, prolongando-se até Pequim. Até à capital chinesa passaram-se mais 7.622 km sobre carris, em comboios multi-cor incluindo 6 noites e uma paragem de quatro horas na fronteira entre a Mongólia e a China, para acerto da bitola das rodas da composição (distância entre carris, que é diferente entre aqueles dois países).
 
Imagens:  56Parallel, GoWay, Wikipedia
Nesta altura, o Vietname é “já ali”… ou quase, mas há ainda que esperar de novo na fronteira para nova mudança de bitola. É… aquando das guerras o pessoal com medo das invasões estragava os planos dos agressores com esta marosca estratégico-militar, que impedia o avanço das composições dos países agressores (também as há diferentes da Península Ibérica para França, ou da Europa continental para as ilhas britânicas). Desde a fronteira, rumo a sul via Zhengzou, Guillin e Nanning, são mais 4 horas até Hanoi, fazendo-se aqui nova paragem de 11 horas antes de nova viagem de 33 horas (1.726 km) até se atingir Ho Chi Minh City. Yeahhhhh!!!! (leia-se qualquer coisa do género "Uffff… finalmente!!!").
 
Imagens: Google Maps, China Highlights, BaolauVietsensetravel e Vietnam Railway
Tudo somado, o Basement Geographer contabilizou 17.000 km e 327 horas de viagem (mais de 13 dias e meio), incluindo todos os acertos horários derivados das diferentes zonas geográficas atravessadas. Previu, na altura, um custo de cerca de 2.000 dólares em bilhetes, contando, por exemplo, na Europa com os mais acessíveis do consórcio Eurail, que incluem uma série de benefícios e são válidos para quase todos os países até à Polónia. Há que somar a isto os 500 km extra que inclui em Portugal e o respectivo custo dos bilhetes (6 euros do Regional e 44,40 euros do Alfa).

Mas é uma viagem bastante dura, mesmo tendo em conta as deslumbrantes paisagens que vai encontrando pelo caminho, a sua grande maioria vista das janelas das diferentes composições, nomeadamente nas rotas Transiberiana e da Mongólia. Em termos de tempo a alternativa “avião” mostra-se muito mais atractiva, podendo-se ainda poupar em quase 3/4 o preço do bilhete.

De acordo com o portal Momondo e partindo de Faro – há que chegar de Vila Real de Santo António de comboio – e voando para o mesmo destino, há 3 hipóteses de escolha (note-se que escolhi um dia a meio da semana, no caso uma 4ªF):
  • A Mais Barata: a viagem fica por 542 euros, saindo-se do aeroporto de Faro e tendo escalas em Amesterdão e Cantão. O primeiro voo é da Transavia e os outros dois da China Southern Airlines. Sai-se às 16h50 desse dia e chega-se às 11h00 de 6ªF, ou seja, no total a viagem far-se-á em 36h10;
  • A Mais Rápida: ser mais rápido (apenas 18h10) implica ser mais caro (3.233 euros) e também aqui há duas escalas – até Munique na Air Berlin e depois para Banguecoque e ate ao destino pela Thay Airways – mas com menos tempos mortos entre as viagens;
  • A Melhor: esta é apresentada como a proposta mais equilibrada, com um custo de 597 euros e feita em 21h25. Um voo é da Lufthansa, levando-o até Frankfurt, enquanto a Singapore Airlines voa até Singapura e, depois, até Ho Chi Minh City.

Imagens: Momondo



Se  o seu espírito é aventureiro e aposta na diferença, a longa viagem de comboio assenta-lhe que nem uma luva. Se é mais lógico de pensamento, então faça-a de avião! Qualquer que seja o seu destino e com quem quer que vá, deixo os votos de umas excelentes férias!

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!

José Pinheiro

Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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