“Bom dia! Quero um bilhete para Ho Chi Minh City por favor!” Se fizesse este pedido
no guichet da estação da CP de Vila Real
de Santo António, o mais certo era que do outro lado do vidro lhe respondessem
algo do tipo “Ah mon… Moce! Deslarga-me da mão!”, ou então um “Comé-quié?”, acompanhado de um sinal de chamada do Segurança de serviço para ver “o qu’é qu’este cabeça de azinho quer pr’áqui!”.
Embora parecendo algo do outro mundo, apenas não é possível a compra na íntegra desse bilhete, mas já o é viajar de comboio desde Vila Real de Santo António, no extremo do sudeste Algarvio, até Ho Chi Minh City (também conhecida como Saigão), na ponta sul do longínquo Vietname! Uma perfeita loucura, é certo, mas faz-se!
Embora parecendo algo do outro mundo, apenas não é possível a compra na íntegra desse bilhete, mas já o é viajar de comboio desde Vila Real de Santo António, no extremo do sudeste Algarvio, até Ho Chi Minh City (também conhecida como Saigão), na ponta sul do longínquo Vietname! Uma perfeita loucura, é certo, mas faz-se!
Surpreso?! Eu
também fiquei assim pró estupefacto, mas um estudo do portal Basement Geographer, feito em tempos e entretanto
replicado noutros portais, demonstra-o... em parte. Isto porque não querendo fazer um eco dessa viagem, decidi esticar um pouquinho mais o
percurso, acrescentando-lhe uns meros 500 km (62 no Algarve e 441 até Coimbra),
vislumbrando esta viagem a partir do sul do país, acumulando aos 17.000 km originais. Afinal, até dá para ligar ambas
as cidades e fazê-la – se não houver atrasos e condicionantes – em cerca de 13
dias, mas vá-se lá saber em que estado de cansaço!
Imagens: Google Maps, CP |
De mochila às
costas na estação de Vila Real de Santo António e ‘bora lá e tentando perder-se o menor tempo possível entre
composições. A longa viagem inicia-se num comboio Regional da CP às 13h33, levando 70
minutos até Faro, para às 15h05 arrancarmos no Alfa Pendular rumo a Coimbra B,
chegando ao destino às 19h43.
Segue-se o internacional
Sud Expresso que, saindo de Coimbra-B às 23h32, atinge a fronteira de Vilar
Formoso às 02h20, Medina del Campo (Espanha) às 05h40 e Hendaye, já do lado francês dos
Pirenéus, às 11h28 da manhã do dia seguinte, numa primeira viagem nocturna que permite descansar e aproveitar as
refeições a bordo da carruagem-bar.
O Sud Expresso liga depois ao TGV-Atlantique francês que
circula entre a fronteira franco-espanhola e Paris e daqui e sempre por
países da União Europeia, o destemido viajante segue, depois, a bordo de
diferentes composições (incluindo o ICE e o EuroNight), passando e/ou parando em cidades como Bruxelas, Colónia
ou Berlim, até alcançar Varsóvia, na Polónia. Nesta altura já se somam cerca de
40 horas de viagem (com transbordos e algumas esperas mais ou menos longas, mais
o acerto horário) desde que se saiu de Coimbra-B.
Ainda está
fresquinho? Então prepare-se que a partir daqui é a doer! Da Polónia inicia-se
uma viagem de quase 26 horas e meia num Polonez, que cobre os pouco mais de 1.300 km até Moscovo, atravessando-se
a Bielorrússia. Dormir, comer e o xixizinho da ordem só a bordo, pois as localidades
onde se pára são só vistas pela janela. Não há tempo para mais!
Imagens: Google Maps, Seat61, ExpressToRussia |
É na capital russa
que se inicia a histórica Rota Transiberiana (ou pelo menos parte dela) que
atravessa quase na horizontal o sul daquele enorme país. Interrompe-se esse
trajecto em Ulan-Ude, para se entrar na Rota Trans-Mongólia, que atravessa este
país de norte para sul, prolongando-se até Pequim. Até à capital chinesa passaram-se
mais 7.622 km sobre carris, em comboios multi-cor incluindo 6 noites e uma paragem de quatro horas na
fronteira entre a Mongólia e a China, para acerto da bitola das rodas da
composição (distância entre carris, que é diferente entre aqueles dois países).
Imagens: 56Parallel, GoWay, Wikipedia |
Nesta altura, o
Vietname é “já ali”… ou quase, mas há ainda que esperar de novo na fronteira
para nova mudança de bitola. É… aquando das guerras o pessoal com medo das
invasões estragava os planos dos agressores com esta marosca estratégico-militar, que impedia o avanço das composições
dos países agressores (também as há diferentes da Península Ibérica para
França, ou da Europa continental para as ilhas britânicas). Desde a fronteira,
rumo a sul via Zhengzou, Guillin e Nanning, são mais 4 horas até Hanoi, fazendo-se
aqui nova paragem de 11 horas antes de nova viagem de 33 horas (1.726 km) até se atingir Ho
Chi Minh City. Yeahhhhh!!!! (leia-se qualquer coisa do género "Uffff… finalmente!!!").
Imagens: Google Maps, China Highlights, Baolau, Vietsensetravel e Vietnam Railway |
Tudo somado, o Basement Geographer contabilizou 17.000
km e 327 horas de viagem (mais de 13 dias e meio), incluindo todos os acertos horários
derivados das diferentes zonas geográficas atravessadas. Previu, na altura, um
custo de cerca de 2.000 dólares em bilhetes, contando, por exemplo, na Europa com
os mais acessíveis do consórcio Eurail,
que incluem uma série de benefícios e são válidos para quase todos os países
até à Polónia. Há que somar a isto os 500 km extra que inclui em Portugal e o respectivo custo dos bilhetes (6 euros do Regional e 44,40 euros do Alfa).
Mas é uma viagem
bastante dura, mesmo tendo em conta as deslumbrantes paisagens que vai
encontrando pelo caminho, a sua grande maioria vista das janelas das diferentes composições, nomeadamente nas
rotas Transiberiana e da Mongólia. Em termos de tempo a alternativa “avião” mostra-se
muito mais atractiva, podendo-se ainda poupar em quase 3/4 o preço do bilhete.
De acordo com o
portal Momondo e partindo
de Faro – há que chegar de Vila Real de Santo António de comboio – e voando para o mesmo
destino, há 3 hipóteses de escolha (note-se que escolhi um dia a meio da semana,
no caso uma 4ªF):
- A Mais Barata: a viagem fica por 542 euros, saindo-se do aeroporto de Faro e tendo escalas em Amesterdão e Cantão. O primeiro voo é da Transavia e os outros dois da China Southern Airlines. Sai-se às 16h50 desse dia e chega-se às 11h00 de 6ªF, ou seja, no total a viagem far-se-á em 36h10;
- A Mais Rápida: ser mais rápido (apenas 18h10) implica ser mais caro (3.233 euros) e também aqui há duas escalas – até Munique na Air Berlin e depois para Banguecoque e ate ao destino pela Thay Airways – mas com menos tempos mortos entre as viagens;
- A Melhor: esta é apresentada como a proposta mais equilibrada, com um custo de 597 euros e feita em 21h25. Um voo é da Lufthansa, levando-o até Frankfurt, enquanto a Singapore Airlines voa até Singapura e, depois, até Ho Chi Minh City.
Imagens: Momondo |
Se o seu espírito é aventureiro e aposta na diferença, a longa viagem de comboio assenta-lhe
que nem uma luva. Se é mais lógico de pensamento, então faça-a de avião! Qualquer que seja o seu destino e com quem quer que vá, deixo os votos de umas excelentes férias!
Cumprimentos
distribuídos irmãmente e até breve!
José
Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas,
decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades
respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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