quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Luis Costa: Objectivo Tóquio 2020

O novo ano está aí à porta, significado isso que faltarão 32 meses para que Luis Costa esteja de armas e bagagens por terras do Japão, para aí disputar os Jogos Paralímpicos “Tóquio 2020”. Até parece ainda muito mas, mesmo a esta distância temporal, o atleta paralímpico de raízes alentejanas está já em preparativos para esse objectivo, dividindo o seu tempo entre as mais diversas acções, tentando captar as atenções para uma modalidade ainda demasiado esquecida ou mesmo desconsiderada por quem teria o dever de a divulgar e promover.

Dando algum eco extra ao paraciclismo, o Trendy Wheels tem-no acompanhado nessa sua ambiciosa mas não impossível jornada, rumo à conquista de uma medalha – e a ser que seja a de ouro – já nos próximos Jogos Paralímpicos de Verão, a decorrer de 25 de Agosto a 6 de Setembro de 2020 no Japão. Com uma agenda repleta, este alentejano natural de Castro Verde divide-se “entre treinos dedicados, entrevistas de promoção da modalidade ou acções junto dos meus apoiantes”, ao mesmo tempo que defende “a igualdade entre todos os atletas olímpicos, com ou sem qualquer grau de deficiência, algo que, infelizmente e mesmo ao nível das autoridades governamentais, se ficou pelas palmadinhas nas costas e promessas feitas em 2016, aquando do nosso regresso dos Jogos do Rio”.
Tudo é conjugado num espaço temporal que estica ao limite do (quase) impossível, entre a vida pessoal e profissional, mantendo-se perfeitamente integrado numa exigente força de intervenção, como inspector da PJ, mesmo com a sua limitação física. Obtidos à força de uma enorme vontade de chegar mais longe, “esse conjunto de resultados e medalhas internacionais, obtidas desde que em 2013 me estreei na modalidade, são dedicados à minha família, em especial à minha companheira Inês e aos meus filhos”, juntando um agradecimento especial “ao Selecionador Nacional José Marques e ao Professor Gabriel Mendes, que gastam neurónios, perdem tempo, acreditam e fazem-me acreditar nas minhas capacidades e que conseguiram transformar um atleta desconhecido num dos melhores do mundo da sua classe!”

Noutro patamar destaca “as centenas de pessoas e empresas que me ajudaram a pagar a handbike de topo que tenho actualmente e às entidades que me têm apoiado, caso do Sporting Clube de Portugal, da Federação Portuguesa de Ciclismo e do Comité Paralímpico de Portugal, grupo que me tem permitido continuar a ter condições para me dedicar a este desporto.”

“Quero representar Portugal no Japão”
Se 2017 foi um ano repleto de sucessos pessoais e desportivos, com o ponto alto na medalha de bronze conquistada nos Mundiais da África do Sul – referi-o na série de textos que aqui se publicaram em Outubro – os anos de 2018 e 2019 antevêem doses adicionais de trabalho com vista essa renovada visita ao circuito paralímpico, quatro anos depois da sua promissora estreia no Brasil.

“Foi, de facto, um ano em cheio e seguem-se outros de muito mais trabalho. Encontro-me integrado no ‘Programa de Preparação Paralímpica Tóquio 2020’, pelo que tenho que arregaçar as mangas para contribuir que Portugal garanta, novamente, vagas para os próximos Jogos e eu seja um dos escolhidos para o representar”, refere Luis Costa com um indisfarçável orgulho. “Dependendo da altura do ano, por norma começo a treinar pelas 08h30, variando a duração entre uma hora e meia e quatro horas. A seguir vou trabalhar até às 19h00 e em certos dias, depois dessa hora, ainda faço mais um treino de ginásio e só depois vou para casa. Com sorte pelas 22h00 poderei descansar”.
Uma realidade que difere da que tem a maioria dos seus adversários internacionais, agora que “o Costa” – como é conhecido entre os seus pares – está de pleno direito no grupo dos candidatos às medalhas. “Sim, nesse particular sou um pouco prejudicado em comparação com a maioria, adversários se dedicam em exclusivo a este desporto. Eu tenho que adequar a minha vida profissional com a vertente desportiva, com a vantagem de aqui contar com uma chefia bastante compreensiva, facilitando-me determinadas situações.”
Não obstante essas diferenças, o atleta que elegeu Portimão como base de trabalho tem sabido tirar todo o partido da sua preparação e da sua handbike, alcançando os lugares de topo da Categoria H5 em que se insere, estando invariavelmente no grupo dos candidatos ao pódio nas competições internacionais em que participa. “Em eventos desse nível aprende-se sobretudo a lidar com a pressão criada pelas expectativas dos resultados. Sabemos que os portugueses, mesmo que não liguem ao que fazemos no resto do ano, nesse dia querem ver a bandeira nacional no mastro mais alto. Actualmente, não tenho problemas ao enfrentar os ditos ‘gigantes’ nas grandes competições, como o italiano Alex Zanardi, o holandês Tim de Vries ou o norte-americano Alfredo de los Santos, entre muitos outros excelentes nomes do paraciclismo, pois afinal já atingi esse patamar, tornando-me num deles, não é verdade? Existe sim um grande respeito pelo valor de todos, mais pelo que fazem em competição e não por terem melhores apoios - que os têm de facto - ou mesmo pelo melhor material, sendo que aqui estou no mesmo nível, graças à ajuda das centenas de pessoas e de algumas empresas que investiram em mim e na minha handbike, a quem não me canso de agradecer”.
O objectivo passa, assim por subir mais um patamar e de candidato às medalhas internacionais Costa quer passar a ser candidato às vitórias. “É um facto que estou no paraciclismo há menos tempo do que alguns dos meus adversários directos, mas se já demonstrei que consigo andar ao mesmo nível, porque não pensar mais alto e nas vitórias, batendo-os de um modo mais regular?” Será o somatório desses resultados que irão permitir que Luis Costa atinja os mínimos de qualificação paralímpica que o levarão até Tóquio.

Não surpreende que Luis Costa vá, assim, ter uma temporada de 2018 das mais exigentes de sempre, dividindo-se entre as taças e campeonatos internacionais da UCI que lhe garantem as tais pontuações que precisa para se qualificar para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, juntando-lhe as participações nos eventos nacionais, onde “ao mesmo tempo que testo em ambiente competitivo, promovo a modalidade, nomeadamente junto dos mais novos e entre aqueles que têm limitações físicas de variada ordem”.
“Com um início de ano em que se equacionam duas outras potenciais provas em terras lusas, em Março, tudo irá começar em Espanha já em Janeiro, no ‘Motorland Invernal, evento realizado no circuito de F1 de Aragón. Depois, de Abril a Junho, o meu calendário de competições irá contemplar mais 8 eventos, quatro deles fora de Portugal”, refere, acrescentando que de Julho a Setembro “tenho 8 outras provas, com destaque para o Campeonato do Mundo de Paraciclismo, em Itália (Agosto), seguida de uma deslocação ao Canadá, fora três outros eventos internacionais!”

É, por isso, tempo de começar a fazer as malas e levar a sua “menina” aos cantos do mundo, parte dos temas desta longa entrevista com Luis Costa em que se abordaram outros temas quentes e também algumas saudáveis recordações. Novos conteúdos que terão de ficar para uma próxima edição, a publicar já nesta 6a Feira. 
Imagens: Luis Costa - Paraciclista

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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