Do
revolucionário filme “Arrivée d’un train
en gare à La Ciotat” (“Chegada de Um Comboio à Estação de La Ciotat”), dos Irmãos
Lumière, no longínquo ano de 1895, até ao actual sucesso de bilheteira “Um Crime no Expresso do Oriente”, a mais recente recriação para o cinema feita a partir da obra icónica de Agatha Christie, o comboio tem sido
protagonista de um sem número de películas, ora assumindo um papel mais
preponderante, ora apenas de suporte, mas deixando sempre a sua marca bem
vincada.
Imagem: CP - Comboios de Portugal |
Apesar
de outros exemplos da autoria dos irmãos Louis e Auguste, filhos do fabricante
de películas Antoine Lumière, seria esta película que viria a imortalizar a
denominada 7ª Arte, fruto da sua exibição pública a 28 de dezembro de 1895,
dentro da primeira sala de cinema do mundo. A sua estreia demonstrou a validade
do conceito, pelo simples facto de muitos espectadores, assustados com o
realismo das imagens, terem saltado dos seus lugares da plateia para o fundo da
sala, com medo de serem atropelados pela locomotiva que se aproximava dos seus
olhos a grande velocidade.
Estes
cerca de 60 segundos de emoção mudaram o mundo, numa arte que, até ao presente
e em já mais de um século, trouxe ao grande
ecrã (e, depois, à televisão, o pequeno)
inúmeros de filmes sobre e com comboios. Os exemplos são muitos, entre os
títulos acima, de “O Grande Assalto ao
Comboio”, icónico filme mudo de 1903, ao desconcertante “A Rapariga no Comboio” (2016), película
que vi há dias, mais as inúmeras cowboiadas, onde havia quase sempre um ou pouca-terra,
pouca-terra na paisagem, seguindo-se diversos filmes dramáticos, de acção,
catástrofe, aventura, comédia, terror, animação, etc, num actor sobre rodas que, como se pode ver, adapta-se a qualquer
género.
“Desde esse
primeiro encontro com o icónico filme dos Irmãos Lumière que o cinema tem
desfrutado de um companheirismo inigualável com comboios, estações e
metropolitanos, cada um deles transmitindo, de um modo especial, a imagem da
nossa sociedade e das nossas fantasias. Podem representar o nosso quotidiano
nos transportes, a nossa fuga para férias, a dor da despedida, a alegria do
reencontro, etc, numa aventura de vida, com doses diferentes de drama e
felicidade, misturando a vida, o amor e a morte, como convém a qualquer bom
argumento”, refere
a organização.
Imagem: Wikipedia/Frères Lumière |
Há
mais de 20 anos que o CineRail apresenta uma selecção de filmes sobre o tema,
propostas na sua grande maioria originais e oriundas de todo o planeta, sendo
que muitas delas de produção independente que integram os concursos de
curtas-metragens, avaliadas por um júri internacional composto por artistas e
profissionais. “Ao todo, já foram
exibidos mais de dois milhares de curtas-metragens, entre criações inéditas, filmes
clássicos ou novidades, demonstrando a perfeita conjugação do mundo ferroviário
com o do cinema”.
Depois de Paris... Lisboa!
Pois
se é fã desta conjugação temática cinema/comboios e vive na capital ou está por
essas paragens no final do mês tenho uma sugestão: o “CineRAIL - Festival
Internacional de Cinema Ferroviário 2017”, evento que, pela primeira
vez na sua história realiza uma edição fora de território
francês, exibindo por cá filmes de todo o mundo subordinados à temática
ferroviária.
Imagens: CineRail e oficiais (filmes) |
Decorre
de 27 a 29 de Novembro no Cinema São Jorge (Av. Liberdade, Lisboa) esta iniciativa,
naturalmente apoiada pela CP - Comboios
de Portugal e pela UIC – União
Internacional dos Caminhos-de-Ferro,
dividindo-se por 3 sessões por dia (10h00, 14h00 e 17h00), exibindo-se mais
de meia centena de películas. A lista oficial só será apresentada no primeiro
dia, mas sabem-se já o nome de duas películas a exibir: “A Carruagem”, filme do fotógrafo/cineasta português João Vasco e da
compositora Anne Victorino d'Almeida, vencedor da anterior edição (2015) do
CineRAIL, integrando a sessão de abertura (às 18h00 do dia 27), para à noite se
exibir “O Comboio de Sal e Açúcar” (21h15),
uma colaboração luso moçambicana do ano passado, com realização de Licínio
Azevedo, duas propostas de âmbito diametralmente oposto.
No
filme luso vários passageiros partilham o espaço e a privacidade de uma carruagem
de metropolitano. Para além deles, ali se transportam sonhos e desejos, a
possibilidade de encontros imprevistos e de conflitos indesejados, num refúgio que
se pode mostrar, por vezes, como uma simples ilusão. Já a segunda película
retrata uma perigosa viagem de comboio, entre Nampula e o Malawi, em plena guerra
civil moçambicana. Única esperança para centenas de pessoas que arriscam a
própria vida para garantir a subsistência das suas famílias, a viagem faz-se a 5
km/h por troços de linha sabotados, deixando completamente vulneráveis todos os
que nele viajam e que procuram esperança em tempo de guerra.
Em
termos de competição oficial, este CineRAIL 2017 divide-se por várias categorias – comunicação
corporativa, sustentabilidade ambiental, segurança, publicidade, comunicação interna
e património histórico – sendo o ponto alto o “Grande Prémio CP” e, também o “Prémio
do Público” atribuído pela UIC. Os competidores serão anunciados
oportunamente no site oficial e os vencedores serão anunciados aquando da entrega
de prémios (a partir das 18h45 do dia 29), que antecipa a cerimónia de
encerramento. A entrada no Festival é livre.
Imagens: Oficiais |
Caso
tenha conseguido prender a sua atenção até aqui convido-@, agora, a assistir aos
trailers de alguns dos filmes
referidos: o icónico “Chegada de Um Comboio à Estação de La Ciotat”,
“Um Crime no Expresso do Oriente”, o vencedor luso “A Carruagem” e o emocionalmente violento “O Comboio de Sal e Açúcar”.
Adicionalmente,
deixo-lhe duas outras referências: porque já estamos em plena época natalícia, o
“Polar Express”, animação de
2014
para os mais pequenos – e não só – que retrata uma mágica viagem de um
jovem em modo de auto-descoberta e o filme/documentário “Lumière – L’Aventure Commence” dedicado a esses dois irmãos franceses que, a partir da invenção do cinematógrafo, nos permitem, desde então, desfrutar das maravilhas
do cinema e alhearmo-nos, por momentos - e dependendo do número de baldes de
pipocas à volta - do mundo lá fora!
Cumprimentos
distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas,
decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades
respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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