sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Obrigado e até sempre Autohoje!

Os últimos tempos têm sido atribulados na comunicação social nacional, sucedendo-se, com uma regularidade impressionante, as transferências de propriedade de alguns títulos emblemáticos, independentemente da sua área de actuação, da informação geral e temática (economia, sociedade, cor-de-rosa, saúde, etc) aos canais de televisões e rádios associadas.

Fruto da tentativa dos grupos editoriais, grandes e pequenos, para estancar uma ferida há muito aberta, decorrente, entre outras razões, da quebra dos volumes de publicidade na chamada imprensa de papel, do crescimento – em volume e importância – dos conteúdos online e de gestões mais ou menos conseguidas em cada casa, ouvem-se novidades a cada dia, chegando-se mesmo a situações de pura suspensão de publicações, nomeadamente nesse sector do papel.
Um exemplo sucedeu esta semana, terminando amarga com o fim de mais um título que me diz muito, pessoal e profissionalmente: a revista “Autohoje”. Sinto-o eu que trabalhei lá apenas dois anos, mas é, decerto, muito mais duro para o grupo de profissionais que, de repente e por razões várias, se vê agora privado de um posto de trabalho (neste momento a maior das suas preocupações) e de uma publicação a que se dedicou, de corpo e alma, nos diferentes períodos temporais em que cada um lá esteve até à data.
Estávamos a 19 de Novembro de 1989 e saía para as bancas o nº 1 da “Autohoje”, semanário dedicado ao mundo automóvel, tinha eu pouco mais de 20 aninhos e prestes a abraçar o mercado de trabalho. Estava muito longe de pensar que, 3 anos mais tarde, haveria de ingressar na sua editora, a Motorpress Lisboa, aprendendo in loco o mundo da imprensa escrita e do mundo automóvel em particular, área por que nutria uma imensa paixão. Foi em Maio de 1992 que, a meias com um grupo de outros excelentes profissionais, hoje noutras paragens, tive o privilégio de lançar o nº 1 da “AutoMagazine”, publicação mensal dessa mesma editora, também ela entretanto extinta. Foi uma aventura editorial de dois anos, seguida de 14 meses no semanário AutoHoje, fruto de uma necessária transferência interna entre redacções.
Embora a uma relativa distância, já havia, por isso, sentido um golpe em Novembro de 2009, com o fim da “AutoMagazine”, então pressionada pela quebra de vendas e dos números da facturação, nomeadamente publicitária. Já este da “Autohoje” iniciou-se há uns meses, aquando dos primeiros zunzuns de que também poderia ter o mesmo e indesejável desfecho, agora confirmado.
Independentemente do que o futuro reserve é certo que a sua editora está, neste momento, em processo de insolvência e que os seus colaboradores, das diferentes redacções (no lote estão, também, outras publicações referenciais como a “Pais & Filhos” e a “Motociclismo”, títulos para os quais se buscam avidamente novos donos) e restante estrutura, passaram a engrossar os números do desemprego nacional, ao mesmo tempo que lidam com as restantes questões decorrentes daquela ingrata situação.

Alguns deles - muito poucos - ainda são do meu tempo naquela casa, há 25 anos! Outros que, entretanto, por lá passaram ou alimentaram-na de conteúdos até à data eram, na altura, jornalistas noutras publicações do sector, umas ainda no activo, outros títulos também já desaparecidos nesta muito volátil e sensível área da imprensa automóvel. Outros ainda eram ainda crianças quando por lá dei os meus primeiros passos na área da informação automóvel. Independentemente da sua origem são, na sua grande maioria, pessoas com quem mantenho, até à data, relações mais pessoais (umas) ou mais profissionais (outras), num conjunto de elementos que, sem outras armas, se viu agora obrigados a capitular neste processo.
É a eles e elas que dedico esta edição Trendy Wheels, ilustrada com imagens das capas do primeiro e último número da “Autohoje” e a da derradeira edição - a nº 211 - da "AutoMagazine”, publicações onde aprendi muito do que hoje me serve de base do outro lado da barricada desta complexa indústria automóvel e sua envolvente. Agradeço a todos os que, então, me proporcionaram esses ensinamentos de base e deixo o meu forte abraço aos que vivem esta situação do presente. Apesar da relativa estanquicidade do sector editorial, quero acreditar que muitos irão conseguir ultrapassar com sucesso esta barreira ou rumar a outras realidades. Afinal a economia nacional até parece estar a evoluir.
1.461 edições depois e muito perto da data em que se comemoraria o seu 28º aniversário - sim, banner abaixo foi o usado no ano passado - deixo o meu "Obrigado e até sempre Autohoje!" 
Imagens: Motorpress Lisboa

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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