Os
últimos tempos têm sido atribulados na comunicação social nacional,
sucedendo-se, com uma regularidade impressionante, as transferências de
propriedade de alguns títulos emblemáticos, independentemente da sua área de
actuação, da informação geral e temática (economia, sociedade, cor-de-rosa, saúde, etc) aos canais de
televisões e rádios associadas.
Fruto
da tentativa dos grupos editoriais, grandes e pequenos, para estancar uma ferida há muito
aberta, decorrente, entre outras razões, da quebra dos volumes de publicidade
na chamada imprensa de papel, do crescimento – em volume e importância – dos conteúdos online e de gestões mais ou menos conseguidas
em cada casa, ouvem-se novidades a cada
dia, chegando-se mesmo a situações de pura suspensão de publicações,
nomeadamente nesse sector do papel.
Um
exemplo sucedeu esta semana, terminando amarga com o fim de mais um título que me diz muito, pessoal e profissionalmente: a
revista “Autohoje”. Sinto-o eu que trabalhei lá apenas dois anos, mas é, decerto, muito mais duro para o grupo de
profissionais que, de repente e por razões várias, se vê agora privado de um
posto de trabalho (neste momento a maior das suas preocupações) e de
uma publicação a que se dedicou, de corpo e alma, nos diferentes períodos
temporais em que cada um lá esteve até à data.
Estávamos a 19 de Novembro de 1989 e saía para as bancas o nº 1 da “Autohoje”, semanário dedicado ao mundo automóvel, tinha eu pouco mais de 20 aninhos e prestes a abraçar o
mercado de trabalho. Estava muito longe de pensar que, 3 anos mais tarde, haveria
de ingressar na sua editora, a Motorpress Lisboa, aprendendo in loco o mundo da imprensa escrita e do mundo automóvel em
particular, área por que nutria uma imensa paixão. Foi em Maio de 1992 que, a
meias com um grupo de outros excelentes profissionais, hoje noutras paragens, tive o privilégio de lançar o nº 1 da “AutoMagazine”,
publicação mensal dessa mesma editora, também ela entretanto extinta. Foi uma aventura
editorial de dois anos, seguida de 14 meses no semanário AutoHoje, fruto de uma necessária transferência
interna entre redacções.
Embora a uma relativa distância, já
havia, por isso, sentido um golpe em Novembro de 2009, com o fim da “AutoMagazine”, então pressionada pela
quebra de vendas e dos números da facturação, nomeadamente publicitária. Já
este da “Autohoje” iniciou-se há uns
meses, aquando dos primeiros zunzuns de que também poderia ter o mesmo e indesejável desfecho, agora
confirmado.
Independentemente do que o futuro reserve é certo que a sua editora está, neste momento, em processo de insolvência e que os seus colaboradores, das diferentes
redacções (no lote estão, também, outras publicações referenciais como a “Pais & Filhos” e a “Motociclismo”, títulos para os quais
se buscam avidamente novos donos) e restante estrutura, passaram a engrossar
os números do desemprego nacional, ao mesmo tempo que lidam com as restantes questões
decorrentes daquela ingrata situação.
Alguns deles - muito poucos - ainda são do meu tempo naquela casa, há 25 anos! Outros que, entretanto, por lá passaram ou alimentaram-na de conteúdos até à data eram, na altura, jornalistas noutras publicações do sector, umas ainda no activo, outros títulos também já desaparecidos nesta muito volátil
e sensível área da imprensa automóvel. Outros ainda eram ainda crianças quando por lá dei os meus primeiros passos na área da informação automóvel. Independentemente da sua origem são, na sua grande maioria, pessoas com quem mantenho, até à data, relações mais pessoais (umas) ou mais profissionais (outras), num conjunto de elementos que, sem outras
armas, se viu agora obrigados a capitular neste processo.
É a eles e elas que dedico esta edição Trendy Wheels, ilustrada com imagens das capas do primeiro e último número da “Autohoje” e a da derradeira edição - a nº 211 - da "AutoMagazine”, publicações onde aprendi muito do que hoje me serve de base do outro lado
da barricada desta complexa indústria automóvel e sua envolvente. Agradeço a todos os que, então, me proporcionaram esses ensinamentos de base e deixo o meu forte abraço aos que
vivem esta situação do presente. Apesar da relativa estanquicidade do sector
editorial, quero acreditar que muitos irão conseguir ultrapassar com sucesso esta
barreira ou rumar a outras realidades. Afinal a economia nacional até parece estar a evoluir.
1.461 edições depois e muito perto da data em que se comemoraria o seu 28º aniversário - sim, o banner abaixo foi o usado no ano passado - deixo o meu "Obrigado e até sempre Autohoje!"
Imagens: Motorpress Lisboa |
Cumprimentos
distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas,
decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades
respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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