E
eis que se volta a ser criança! É assim, de repente e sem avisar, regressando
aos tempos em que estamos rodeados de rocas, mordedores de borracha e peluches,
carrinhos de fricção, garagens e coisas com peças que nos proíbem de por na
boca. Agora só dispensamos as fraldas, pois nunca se chega a tanto, o biberon e
a chucha, que só atrapalham! Ah sim, e também a árvore de Natal, pois não cabe.
Nem uma bonsai quanto mais!!!
Hoje
o meu brinquedo é o Mazda MX-5, algo
que devia ser obrigatório para qualquer criança, logo que se nasce. Sim,
primeiro do tipo peluche, depois nos livrinhos de pintar, a lápis, caneta de
feltro ou aguarelas, seguindo-se os coleccionáveis às várias escalas, pósteres
nas paredes – quais ídolos da musica, qual quê! – e, uma vez tirada a carta, um
verdadeiro!
E
se um é bom, aqui é caso para dizer que dois é fantástico! Isto porque o roadster mais vendido do mundo – há pouco
mais de um ano ultrapassou o patamar de 1 milhão de unidades vendidas em todo o
planeta, nas suas quatro gerações (“NA”, “NB”, “NC” e esta “ND”) – tem desde o ano
passado dois derivativos complementares. Chamei, por isso, o meu alter-ego para fazer comigo este confronto
entre o Mazda MX-5 soft-top, com uma
capota manual em lona que se abre/dobra facilmente, e outro Mazda MX-5 RF, dotado de um tejadilho
rígido e eléctrico, que a marca chamou de Retractable
Fastback. Ufff… e que teste este, pois apesar de muito semelhantes em
conteúdos, estes irmãos de sangue eram também algo diferentes, nomeadamente em
termos mecânicos.
3… 2… 1… Liguem-se
os motores!
Mais
comedido, segundo o meu habitual low
profile, escolhi o MX-5 de capota de lona, brinquedo com que me identifico muito mais: motor mais pequenino (um
1.500 de 130 cv) e uma caixa manual de 6 velocidades, de engrenagens rápidas e
muito curtinhas, mais parecendo um kart
de estrada. Delicioso, tal como o som quando se arranca, engrenando a 1ª e depois a 2ª e depois...! Querooooooooooooooooooooooooooo maaaaaaaaaaaaaaais!!!!!
Quanto
ao meu eu fanfarrão, preferiu a
variante mais recente do tipo fast &
smooth para que, preguiçoso como é, lhe bastasse um botão na consola para
ficar com a careca ao sol, assistindo comodamente ao arrumar da capota atrás
dos bancos – em apenas 12 segundos – dando origem a um roadster do tipo targa
(há quem faça a ponte com o famoso formato
dos Porsche 911, num elogio significativo). Como se tal não bastasse, também a
caixa de velocidades era de 6 relações mas aqui automática, podendo até pô-la
em modo sequencial e, com isso, brincar
com as patilhas no volante, associada a um motor de 2.0 litros, de maior
potência (160 cv) e até um modo Sport que o torna um pouco mais spicy. Hummmm… hot!!!
Por falar em quente, falemos da cor, um referencial tom Soul
Red que, em conjunto com as linhas de design KODO fazia virar várias
cabeças, muitas mesmo, de dois MX-5 que eram, também, quase idênticos no equipamento, assentando
no nível Excellence, o maior e mais recheado da gama, associado ao pack Navi (navegação).
De
resto, lá dentro, naqueles exíguos cockpits e uma vez fechadas as capotas, os
AC automáticos faziam as vezes do fresquinho ou do quentinho, ao mesmo tempo
que tirávamos todo o partido do avançado sistema áudio da BOSE que os equipava,
comodamente sentados nos bancos em pele (mais confortáveis no MX-5 RF) que
integravam altifalantes nos encostos de cabeça, complementando a restante
distribuição do som. O resto era minimalista, já que qualquer coisa que se
levasse para o interior teria obrigatoriamente de ser guardado lá atrás, nas
pequenas bagageiras. Não há espaços para guardar/prender nada, apenas uma
pequenina consola debaixo do AC, para encaixar o telemóvel e a carteira, e um
porta-luvas (com chave) entre os bancos, no painel traseiro. Papeis soltos nem
pensar, pois o mais certo era voarem, tão depressa quanto subiam os níveis de
adrenalina quando nos sentamos ao volante e pressionamos o botão de start!
Afinal,
desde quando são precisas mordomias num kart? Aqui no Mazda MX-5 o conceito aproxima-se muito do rough & tough, se bem que nestes dois casos com algum conforto associado.
Conduzi-los
é toda uma sensação levada aos extremos do prazer, de múltiplos prazeres, pois
os excelentes chassis e mecânicas Mazda SKYACTIV associadas isso lhes garantem.
Em absoluto! Ouvir ambos os motores, sentir as rotações a subir e a descer à
medida que se engrenam as velocidades, nomeadamente na curtinha caixa manual –
já disse o quão deliciosa ela é no 1.5 – pelo que explorá-la na versão 2.0 deve
ser bem mais agradável do que nesta versão automática que o meu outro eu conduziu. Não que ele se tenha queixado, nomeadamente
quando o punha no tal modo Sport e brincava com as patilhas no volante na vertente sequencial, aproveitando o extra de binário. Pois… são
gostos e esses não se discutem, nomeadamente com o gajo que, invariavelmente, vemos no espelho a cada manhã.
Já
no custo associado à plena exploração das capacidades destes dois brinquedos
para gente crescida, mas que os mais novos também querem ter – a minha
descendência que o diga!!! – há que contar com algumas idas extra à bomba. Se
se andar com eles ao colo, algo que
não é, decididamente, a sua essência, até se conseguem fazer médias simpáticas,
agora, se o pé teimar em andar a explorar o pedal do acelerador, pois, o cartão
do combustível vai ter algum uso extra, nomeadamente na variante mais potente
com caixa automática. O puro prazer é só na condução e nas viagens de cabelos
ao vento, ou carecas no nosso caso! Milagres fazem-se mas não é nesta secção.
Do "NA" ao "ND": um
salto geracional
Estes
Mazda MX-5 da 4ª geração (chamam-lhes “ND”)
são uma clara e natural evolução face ao original conceito “NA” de 1989. Tanto que têm conquistado os mais diversos galardões
internacionais, nomeadamente o de “Carro
do Ano Mundial” e “Design do Ano
Mundial”, ambos em 2016, o conceituado “Red
Dot Award – Best of the Best” em 2015 e 2017, atribuído aos conceitos que
mais se diferenciam dos produtos seus equivalentes nas diferentes indústrias e
actividades, entre dezenas de outros prémios nacionais e internacionais.
Soluções
transversais a todos os actuais modelos da marca japonesa, também estes MX-5 contam
com ajudas à condução, inerentes ao salto tecnológico que se tem operado no
sector e dentro da própria Mazda: abrem-se com um toque nos puxadores das
portas e fecham-se sozinhos, quando nos afastamos e sem que tenhamos de procurar
as chaves, põe-se a trabalhar com o botão de start & stop (este servia para quando os tínhamos de deixar descansar – eles e nós – por algum tempo…),
tinham direcção assistida, controlo de tracção, aviso/ajuda à manutenção na
faixa, aviso de ângulo morto, mais os controlos de estabilidade, sensores de
estacionamento atrás, de pressão de pneus, da chuva e da luz (com faróis
automáticos), juntando-se na variante mais potente os sistemas i-stop (no pára/arranca e nos semáforos)
e i-ELOOP (regeneração da energia da
travagem), bem como o diferencial auto-blocante e uma suspensão mais sporty! Ok… estes até os dou de barato, mas
em (quase) tudo o resto o meu popó era
igualzinho ao do meu rival!
Visualmente
– sim, já o disse, mas não me canso – ambos eram autênticos ímanes de olhares,
na estrada ou a quem se lhes apresentava sempre que parávamos num semáforo ou estacionamento. O inigualável vermelho pigmentado com milhares de
flocos brilhantes ajuda, claro, mas a exploração do design KODO nestes Mazda MX-5
é algo do outro mundo. Seja com as capotas postas ou bem arrumadas lá atrás, as frentes mergulhantes de olhos rasgados e as deliciosas traseiras com farolins redondos
integrados cativavam familiares e desconhecidos, dando origem a uma sucessão de
perguntas & respostas.
Dois deliciosos
brinquedos por…
“E andam?”, “E a
travar?”, “E as capotas?”, “E isto?”, “E aquilo?”, “E…?” com as consequentes
respostas seguidas de rasgados elogios e algo semelhante a um indisfarçável “Niceeeeeeeeeeee!!!!”, para logo depois virem os inevitáveis “E quanto custam?”.
Dadas
as suas naturais limitações, inerentes ao conceito roadster de 2 lugares, estes MX-5 não são carros para o dia-a-dia,
até muito mais do que não serem para todas as carteiras. Os preços de entrada
na gama até são relativamente acessíveis (€ 25.100 para o soft-top e € 29.850 no caso do RF), mas as duas variantes aqui em
análise, bem mais recheadas, surgem com valores um nadinha superiores: € 31.600
para o meu Mazda MX-5 (soft-top) 1.5 SKYACTIV-G (131 cv) MT Excellence Navi e € 44.425 para o Mazda MX-5 RF 2.0 SKYACTIV-G (160 cv) AT Excellence Navi do meu
outro eu.
Quanto
a nós, de repente vimo-nos num berreiro
a plenos pulmões, pois acabou-se a brincadeira, chegando a hora de arrumar os popós, da obrigatória muda
da fralda (afinal…), para depois se comer a papinha toda e vir o inevitável xi-xi/cama. Mesmo contrariado, continuo
na minha: MX-5 é sempre com caixa manual… não quero cá saber de automáticos, de
autónomos ou de algo que me retire o verdadeiro prazer de condução. Algo que os
japoneses na Mazda chamam de Jinba Ittai…
recorda-se?.
Termino com um agradecimento muito especial ao Luis Azevedo da LAZEVEDOPHOTO, cujo profissionalismo permitiu eternizar em imagens este autêntico sonho em duplicado!
Imagens: LAZEVEDOPHOTO.COM |
Vou
agora dormir um soninho bom, sonhando com esse dia em que, já mais crescido,
possa ter um Mazda MX-5, quem sabe da geração “NE” ou “NF”, todinho para mim! É
que o meu outro eu já me leva uns minutos de avanço e eu tenho de o apanhar…
Vrummmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!!
Cumprimentos
distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas,
decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades
respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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