Se
a primeira metade de 2017 do paraciclista Luis Costa foi repleta de viagens e medalhas, o trimestre que se seguiu não foi
menos vazio de histórias para contar, quase todas elas com final feliz, em
especial a última, no âmbito dos Campeonatos do Mundo da África do Sul, onde
alcançou o que considerou como um sonho. Mas vamos por partes...
Fim-de-semana de bronze ao peito!
Retomemos essa aventura onde parámos na anterior edição, com uma segunda metade de
2017 que começou com nada menos do que duas subidas ao pódio, num evento da Taça do Mundo em Emmen (Holanda), resultados que, apesar da sua dimensão, não o satisfizeram por completo!
A primeira medalha de bronze decorreu do 3º lugar obtido no Contra-Relógio,
prova em que ficou a apenas 58 segundos do vencedor, o holandês Tim de Vries,
seu eterno adversário! “Confesso, por
isso, que me soube a pouco, embora ficasse satisfeito pela minha evolução em Contra-Relógios,
já que fiz as duas voltas ao percurso sensivelmente iguais, a uma média final
de 40 km/h.
Segundo o lema “Esforço,
dedicação, devoção e glória” do seu Sporting Club de Portugal, “clube que orgulhosamente represento”,
apostou em fazer melhor no dia seguinte, na Prova de Fundo, mas também aqui foi
o resultado foi idêntico, numa jornada em “fiquei
um pouco frustrado pela forma como deixei escapar a prata, pois trabalhei muito
durante esta prova para tentar alcançar o Tim, que depois fugiu sem que o
conseguisse alcançar. Percorri os últimos 100 metros com algum avanço sobre
Alfredo de los Santos, mas infelizmente os braços não aguentaram o esforço
final e ele passou-me mesmo em cima da linha de chegada”, concluindo com um
desalentado mas real desabafo de que “só
acaba no fim, é essa a realidade!”
Campeão Nacional, mas este ano sem
certificado!
De regresso a Portugal, Luis Costa abraçou, depois, os Campeonatos Nacionais de Almeirim, alcançando duas vitórias – no
Contra-Relógio e na Prova de Fundo – na sua classe. Dois resultados que, em
condições normais, lhe valeriam o seu novo título de Campeão Nacional.
Só que, este ano, fruto das novas regras da modalidade, Luis
Costa não pode ser declarado Campeão Nacional, já que é sendo o único atleta da
sua classe, não tendo, por isso, direito a receber e usar na próxima época a
camisola de Campeão Nacional. “É injusto?
Talvez, mas regras são regras e não as vou contestar. Mas, a partir de agora,
vou competir com o equipamento verde e branco do meu clube, algo que muito me
orgulha de igual modo”.
A fechar o ano nacional de competições, disputou em Albergaria e Alcobaça as duas derradeiras provas da Taça de Portugal, vencendo em
ambas a sua classe. “Sobretudo aproveitei
para fazer novos testes à condição física, ficando muito satisfeito com a minha
forma, fruto das muitas ‘tareias’ que levei nas semanas anteriores, numa altura
em que já ansiava pelos Mundiais.”
O corolário de toda uma época
E eis que chega o ponto alto da temporada, o Campeonato do Mundo de
Paraciclismo da Africa do Sul, em Pietermaritzburg, evento que começou com uma
série de percalços mas que viria a tornar-se no seu maior orgulho, encerrando
toda uma época de esforço e dedicação.
“Não começou, de facto, nada bem essa participação,
primeiro com um problema mecânico na handbike durante os treinos oficiais para o
Contra-Relógio. O desviador de velocidades ‘decidiu’ ser esse o momento ideal para
deixar de funcionar em condições, o que me limitou as performances, não deixando
engrenar alguns carretos mais altos, essenciais nas descidas de grande
inclinação desse percurso”. Em resultado disso, o atleta luso
viria a chocar violentamente com um adversário, “quando seguia a mais de 40 km/h. Ele não me viu e virou à direita no
momento exacto em que eu o ultrapassava!” Como resultado Luis Costa,
capotava e resvalava de costas no asfalto. “Apesar
disso e milagrosamente, a handbike não sofreu nem um risco para além dos que já
tinha”.
Vá que as redes sociais também servem para pedidos de ajuda e
um proprietário de uma loja de bikes
local lhe arranjou um desviador electrónico novo para que, no dia seguinte, ele
pudesse fazer o reconhecimento ao percurso da Prova em Linha e depois, os
eventos oficiais. “Foi só montar e
testar, funcionando a 100%, sem necessidade de nova programação do sistema.
Fiquei delirante, agradecendo aos anjos que lá em cima olham por mim, mesmo
quando me deixam esfolar as costas todas no alcatrão”.
Depois de tantos problemas, Luis Costa apresentou-se à
partida “decidido a provar que todo o
investimento em tempo, compreensão, dinheiro e trabalho de todas as pessoas que
de qualquer modo contribuíram para que aqui chegasse em grande forma, não fosse
desperdiçado! O percurso era ao meu gosto, mesmo com subidas de ‘partir o
coração’”, explicou. “Trabalhei muito
para isto, num ano em que me preparei desde início para esta prova onde podia
mostrar o meu valor, a mim próprio e ao mundo!”
“Desde a
primeira das 3 voltas percebi que estava andar mesmo forte, ultrapassando vários
dos atletas que partiram antes de mim, ao mesmo tempo que via que o Alex
Zanardi e o Tim de Vries, dupla que partiu depois de mim e naturais candidatos
à vitória, não me estavam a ganhar muito tempo. Também assisti aos saltos do meu treinador, José
Marques, a cada passagem minha na meta, quase à beira de um ataque cardíaco,
porque se apercebeu de que eu estava no rumo das medalhas, algo também me deu ainda
mais força para dar tudo por tudo até ao fim e não deixar escapar a
oportunidade”.
De facto ela não escapou, gerando “um turbilhão de emoções. Mais do que ganhar a medalha de bronze num
Campeonato do Mundo, foi a forma como o consegui, ficando a apenas 47 segundos
do Zanardi, algo que ainda se
revestiu de maior importância para mim, pois não há muito tempo eu perdia 5
minutos pra ele neste tipo de prova! E dado que ambos temos apoios e materiais
de diferente dimensão, acho que não é preciso dizer mais nada!”
“Estar ali
naquele pódio, na competição mais importante do calendário mundial – a par dos
Jogos Paralímpicos, claro! – ao lado do homem que todos consideram o maior
atleta de sempre no paraciclismo e que foi a minha inspiração para me decidir a
praticar este desporto, é surreal!”
Tão surreal que, no dia seguinte, na Prova em Linha com cerca
de 60 km partiu de faca nos dentes em busca de novo pódio, “sempre a acreditar que tudo é possível.” Mas nova subida ao pódio
fugiu-lhe por pouco, muito pouco, já que terminou com o mesmo chrono do
vencedor. “Sim, fui 4º mas terminei no
grupo dos melhores, deixando o 5º classificado a mais de 20 segundos!” É
caso para dizer que já não falta tudo!
Tudo somado…
O difícil mas recheado ano de 2017 de Luis Costa terminou,
assim, com 4 medalhas de prata em provas C1, mais 3 medalhas de bronze em
eventos da Taça do Mundo, e a enorme
medalha de bronze que trouxe do Campeonato do Mundo.
“Acabei o ano no
3º lugar do ranking da minha classe na Taça do Mundo e em igual posição no da UCI, apenas atrás desses dois colossos Campeões do Mundo, o Tim de Vries (na
Prova em Linha) e o Alex Zanardi (no Contra-Relógio), dois amigos e fantásticos
adversários.”
“É uma honra,” sublinha o nosso
atleta paralímpico que, pelo 4º ano consecutivo, integra o top 10 mundial da modalidade algo de muito significativo, depois da
sua estreia em competições oficiais em 2013: “Dado que em 3 deles acabei nos lugares do pódio, só tenho motivos para
estar orgulhoso da minha evolução e super-motivado para tentar fazer ainda
melhor nos próximos anos”.
Um vasto conjunto de resultados que deve ao seu total empenho e dedicação, mas também e significativamente, ao Professor Gabriel Mendes, técnico da Federação Portuguesa de Ciclismo, e ao seu incansável treinador José Marques, para além, claro, do apoio familiar encabeçado pela sua companheira Inês Neves. Outra peça importante é o conjunto de entidades que, à sua medida, o apoiam neste ambicioso projecto, da própria federação ao Comité Paralímpico de Portugal, passando pelo SCP e demais empresas que lhe prestam os mais variados serviços.
E o é que vem a seguir? Há que esperar pelas “cenas dos próximos capítulos”, aqui no Trendy Wheels. Isto porque “o Costa” – como é conhecido pelos
amigos – ainda tem algo (muito mais) para dizer…
Cumprimentos
distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas,
decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades
respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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