quarta-feira, 26 de abril de 2017

Uma viagem inevitável

Se há algo absolutamente garantido é o facto de que todos iremos morrer, só não se sabe quando. É indesmentível e apesar de alguns apregoarem terem ido e regressado ao mundo dos vivos, eventualmente assumindo forma diversa de um seu antepassado, mesmo esses ter-nos-ão deixado por uma temporada.

É, também, a única situação que implica um emprego com futuro (praticamente) assegurado, pois enquanto o Homem não estraçalhar o planeta de uma vez por todas, clientes nunca irão faltar às funerárias. Mas há que inovar para cativar novos clientes, numa altura em que cada vez mais entidades exploram esse autêntico filão, de custos elevadíssimos, excepto para @ falecid@ que, por essa altura, é para o lado que dorme melhor.
Uma das tendências em crescimento é a cremação, preferido ao mais doloroso ritual do enterro tradicional, domínio em que um portal londrino de comparação de preços - uma espécie de Booking mas em vez de serem hotéis é para agências funerárias - parece ter encontrado uma proposta que são os familiares a fazerem as suas próprias cremações… em casa! Isso mesmo, ali, no quintal, envolvendo essências agradáveis, cores alegres e… uma estrutura com rodas!
Seguindo a máxima de que “a nossa casa é onde está o nosso coração”, a Funeralbooker sugere o pacote “Domicineration” (qualquer coisa como “Incineração no Domicílio”), sendo esta feita num veículo apropriadamente denominado de CremMate (outro trocadilho que dá algo como “O Amigo Cremador”). Tem um painel digital fácil de operar, definindo-se o género, idade, peso e altura d@ falecid@, até dando para animais de companhia. Para apressar a coisa tem uma função “Turbo”!

Para que o processo se torne menos pesado, permite dar-se cores aos fumos que saem da estrutura – que mais se assemelha a um grelhador de formato cilíndrico – possam ser, por exemplo, da bandeira do país ou até do clube de futebol, e podem ser associadas 4 essências: maresia, lavanda, bolo quente e caramelos. Já o sistema de áudio incorporado permite gravar as habituais palavras de apreço pel@ defunt@ ou mesmo os hits musicais que aquele ouvia em vida.
O sucesso parece enorme por aquelas paragens, satisfazendo os familiares que, assim, não têm de se deslocar, mas ainda mais apreciada é a questão do custo, na ordem das 300 libras, face às mais de 3000 de um funeral tradicional. As reacções, publicadas no portal da funerária, são elucidativas: “Como fã dos Stokes, o meu pai iria gostar de ver os fumos vermelho e branco do seu clube”, ou um “com esta solução conseguimos poupar dinheiro suficiente para fazer um cruzeiro, como a mãezinha queria”, ou ainda um carinhoso “até os meus netos me ajudaram a mexer no painel digital”!
Estranho? Sim, bastante mesmo, quanto mais não seja porque este foi o modo alternativo como a Funeralbooker decidiu assinalar o 1º de Abril, pretendendo com isto “aproveitar a oportunidade de usar o Dia das Mentiras para chamar a atenção para a subida em espiral dos custos associados à despedida de um ente querido”, referem os responsáveis do portal. “Foi fantástico ver a reacção que provocou na discussão do tema sobre os custos associados à morte, pelo que esperamos que dê azo a discussões sobre o que as pessoas verdadeiramente querem em termos de funerais”.
Apesar do cariz algo tétrico da cena, houve muita gente convencida e mesmo conquistada pelo CremMate, “pois passámos a semana a receber chamadas para a disponibilidade deste sistema caseiro, o que demonstra as proporções que os custos destes processos assumiram para as famílias”.
Imagens: Funeralbooker


É caso para dizer que ainda não chegámos a tanto!!! 

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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