Depois do merecido repouso do guerreiro, após as
paralimpíadas do Rio no Verão passado, o paraciclista Luis Costa tem já os objectivos
bem definidos para que, em 2020, possa obter ainda melhores resultados no extremo oposto do planeta, nos Jogos Paralímpicos
de Tóquio. Há, por isso, um longo caminho a percorrer pelo nosso Campeão Nacional de Contrarrelógio e de Estrada, títulos que o paraciclista
luso conquistou em 2016 pelo quarto ano consecutivo, ano em que também ascendeu ao 2º
lugar absoluto no ranking mundial
da modalidade (Classe H5).
Como companheiras destas aventuras nacionais e
internacionais, o atleta do Sporting
Club de Portugal tem evoluído, como desportista profissional, apostando em diferentes
handbikes, com características adaptadas aos diferentes escalões da modalidade. Tem o hábito de lhes dar nomes, conforme nos confidenciou Luis Costa, na recente entrevista que deu ao
Trendy Wheels:
“A ‘Zingarelho’ foi a
primeira, de quando comecei a competir, em Março de 2013, sendo uma handbike em
que nos sentamos numa posição inclinada para trás. A partir de Junho desse ano
passei para a ‘Rasteirinha’, em que seguia deitado, e a seguir, em Setembro,
veio a ‘Lebre’, uma handbike que se conduz de joelhos, fruto da reclassificação
que me foi feita pela UCI – estava, na altura, numa classe errada – quando
participei pela primeira vez numa Taça do Mundo. A actual começou por ser a
‘Basca’, mas acabei por não interiorizar o nome e na verdade trato-a simplesmente
por ‘Menina’”, explica.
Reforcem-se as diferenças significativas entre as
várias máquinas usadas no
paraciclismo, que podem ser: bicletas de duas rodas, handbikes, triciclos ou tandems. Actualmente o nosso entrevistado
usa uma handbike que se integra na Classe H da modalidade e
embora seja comum a confusão criada
na mente dos menos atentos, as handbikes
nada têm a ver com as cadeiras de rodas tradicionais: “O próprio nome é esclarecedor, não sendo, de facto, uma cadeira, sendo que estas são utilizadas
nas provas de atletismo,
participando em maratonas e em provas de pista, nos estádios. Embora muita
gente as confunda pelo facto de também terem 3 rodas, a tracção nas cadeiras de
rodas é feita diretamente pelas mãos nos aros das rodas traseiras”.
Imagens: Ottobock (1), Luis Costa – Paraciclista (2), Cycle Style (3), Telmo Pinão (4) Canadian Paralympic Comittee (5) |
“Já as
handbikes, como a minha, funcionando
exactamente como as bicicletas, recorrem a cranks, rodas pedaleiras, carretos e
mudanças, tendo como única (e grande) diferença o facto de se operarem com as
mãos, em vez dos pés, recorrendo a pedais alternados. Há ainda os triciclos
da Classe T, que se pedalam com os pés e que têm 3 rodas”,
acrescenta.
A estas há que acrescentar os tandems, com dois selins,
utilizados por atletas invisuais e que, por isso, correm em duplas, sendo que o
outro atleta – o que vai no selim da frente – não tem qualquer deficiência
visual, e as bicicletas tradicionais,
mais ou menos adaptadas ao grau de deficiência de cada atleta.
Voltando às handbikes
do entrevistado desta edição Trendy
Wheels, se as suas três primeiras tinham o seu quadro de alumínio, a
‘Menina’ tem um novo quadro totalmente em carbono, num conjunto que com as mais
recentes evoluções, ao nível das rodas e demais elementos, já resulta num
investimento muito significativo. “Quando
se quer competir ao mais alto nível, seja nas provas nacionais e
internacionais, mas em especial ao nível de um Campeonato do Mundo ou umas
Paralimpíadas, é obrigatório haver algum investimento, pois de outro modo não
conseguimos usar armas iguais – ou pelo menos equivalentes – às dos nossos
adversários.”
Apesar
de algumas dificuldades ao nível da angariação de fundos, tal tem-se mostrado possível
graças aos apoios que Luis Costa tem obtido, nomeadamente em serviços
associados, dos diferentes parceiros com que tem contado ao longo da sua ainda
recente carreira, ajudando a completar o bolo
do seu próprio investimento individual. “É
aos meus patrocinadores e apoiantes que devo parte do que tenho conseguido ao
longo da minha carreira e é com eles que quero ir até aos Jogos de Tóquio 2020”.
Mais de 7.000 km na
pré-época
Findo
o período de descanso e recuperação pós Rio de Janeiro, há muito que Luis Costa
regressou aos treinos, num programa intensivo que não só envolve trabalho de
ginásio, como a participação em eventos esporádicos – desportivos, solidários e
outros – preparativos do que definiu como o seu “Programa Desportivo para 2017”.
Imagem: Algarve Granfondo |
Curiosamente
há quem pense que a coisa se faz num estalar de dedos, mas naturalmente que não
é bem assim, como nos explica: “Há muita
gente que regularmente me pergunta se tenho treinado, mas mais recentemente a
coisa torna-se ainda mais ‘gira’, ao acrescentarem algo do género ‘agora que o
Inverno já passou, já podes voltar aos treinos, não é?’”. Pois… ele tem
treinado e não é pouco, pois “entre
Novembro de 2016 e agora já terei feito cerca de 7.000 km na bike, isto fora as
horas de ginásio, não só físico, como de preparação mental.”
Intercalando
os treinos diários e bi-diários, o paraciclista luso da Sporting/Tavira – Paracycling tem participado em provas de pré-época,
nomeadamente Minifondos – já esteve no Algarve e em Palmela, estando em agenda
o de Almodovar (25 de Março) e o de Évora (9 de Abril) – antes de se iniciar a
sua jornada internacional, que prevê eventos em Espanha, Itália, Bélgica,
Holanda, África do Sul e Emirados Árabes Unidos, intercalados com as diferentes
provas nacionais.
Imagens: Arrábida Granfondo |
Os
dois primeiros já estão cumpridos e se o primeiro correu sem problemas de
maior, tendo alcançado o 5º lugar da geral masculina, já a prova da Arrábida fê-lo
passar por uma experiência que nenhum ciclista gosta, pois “fiquei embrulhado numa queda que envolveu vários atletas logo no
início da corrida”. Recolando depois ao grupo da frente, fruto do trabalho
em conjunto com um grupo de outros atletas,
“vi-me depois a braços com a amarga subida final em Palmela, em calçada
portuguesa, molhada e escorregadia, com passagem por dentro de um jardim, onde
nem conseguia fazer as curvas em cotovelo. Tinha que colocar as mãos no chão
para levantar a handbike e fazê-la rodar para conseguir curvar a subir, para
depois sair do jardim por uma rua a subir a pique, também em calçada, onde por
pouco não comecei a andar... para trás! Enfim, foi uma manhã animada.”
À
parte destas peripécias, o
paraciclista considera ter sido “um bom
teste à minha preparação para a época que se aproxima, fiz o 15º lugar da geral
– o 13º foi um senhor ‘desconhecido’ chamado Marco Chagas! – e o 7º do meu
escalão. Mais uma demonstração que se consegue fazer coisas interessantes a
pedalar com os braços em comparação com os que normalmente o fazem com as
pernas”.
À conquista de Portugal e do Mundo
Depois
dos Minifondos seguem-se os diferentes eventos, nacionais e internacionais, que
irão por à prova toda esta preparação, ajudando Luis Costa a evoluir entre os
demais adversários e a rechear a sua vitrina de prémios. Do calendário fazem
parte 3 provas da Taça do Mundo, mais o Campeonato do Mundo e a Final do
Circuito Europeu, bem como 4 jornadas da Taça de Portugal e os Nacionais de
Contrarrelógio Individual e de Fundo, defendendo os títulos de 2013 a 2016.
Veja aqui o calendário:
- 22/23 Abril -
Verola Paracycling Cup (Itália)
- 29/30 Abril -
Brescia Paracycling Cup (Itália)
- 11/14 Maio - Taça
do Mundo de Paraciclismo, Maniago (Itália)
- 19/21 Maio - Taça
do Mundo de Paraciclismo, Ostend (Bélgica)
- 28 Maio - Taça de
Portugal, Viana Castelo
- 18 Junho - Taça
de Portugal, Águeda
- 24/25 Junho -
Paracycling Bira, Bilbau (Espanha)
- 30 Junho/2 Julho
- Taça do Mundo de Paraciclismo, Emmen (Holanda)
- 8 Julho -
Campeonato Nacional de Contrarrelógio Individual (Almeirim)
- 9 Julho -
Campeonato Nacional de Fundo, Almeirim
- 16 Julho - Taça
de Portugal, Albergaria-a-Nova
- 20 Agosto - Taça
de Portugal, Alcobaça
- 31 Agosto/3 Setembro
- Campeonato do Mundo de Paraciclismo, Pietermaritzburg (África do Sul)
-
28 Outubro - Final do Circuito Europeu de Handbike, Abu Dhabi (EAU)
Destaquem-se
os apoios que Luis Costa tem nesta aventura internacional sobre rodas, com
especial destaque para a UVP - Federação Portuguesa de Ciclismo e o Sporting Clube de Portugal, clube com quem renovou,
recentemente, o seu contrato. As restantes entidades que o ajudam, neste
momento, a preparar o seu projecto rumo aos Jogos de Tóquio 2020 são (por ordem
alfabética) a Alportil - Concessionário Skoda, Beto Fitness Club, G-Ride Portimão E Faro, Hypno Coaching, Mediessencial - Clínica Médica e Dentária Lda, Os Mosqueteiros, OZ Energia,
Sabores Da Ria e Tattoo Studium. Outros serão,
decerto, muito bem-vindos!
Cumprimentos
distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas,
decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades
respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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